segunda-feira, 15 de abril de 2013

Ocupação a hotel de luxo foi para 'dar Ibope', diz cacique na Bahia

Divulgação ( Express Mídia )
"Excuse me, please", disse o cacique Val Tupinambá, 35, ao pegar o telefone do escritório da Funai (Fundação Nacional do Índio), no centro antigo de Ilhéus (BA), para fazer ligações a políticos..

A contragosto, tupinambá corintiano vira símbolo de invasão
Era tarde da última quinta-feira e ele pedia passagens aéreas para viajar a Brasília.
Quatro dias antes, havia comandado a invasão de 70 tupinambás a um hotel de luxo na vizinha Una, no sul da Bahia, com praia privativa e diárias acima de R$ 1.000.
Apesar dos telefonemas, Val (ou Valdenilson Oliveira dos Santos) ficou sem passagens, já que não prestou contas de uma viagem anterior.
Candidato derrotado a vereador nas últimas duas eleições (primeiro pelo PC do B e depois pelo PDT), ele vestia calça jeans e camiseta da grife Osklen, marca que mantém uma loja no hotel invadido.
Ainda no escritório da Funai, repetia que precisava checar os e-mails e, pelo celular, pedia aos tupinambás que se preparassem com seus "adereços" para a visita da Folha à tribo naquela noite.
Val brinca: "Está tudo índio". Ele é professor de uma escola indígena e dono de um restaurante de beira de estrada no qual uma moqueca de peixe sai por R$ 15.
Diante da reportagem, os telefonemas continuam. Num deles explica o motivo da invasão ao hotel de luxo.
"A ocupação foi para dar uns Ibope, né, para ver se o ministro [da Justiça] nos recebia", disse. "Mas não foi aquela farra que ficou parecendo, viu?", completou.

Os indígenas pedem pressa ao governo federal no processo de demarcação de uma terra indígena na região. A invasão ocorreu justamente para chamar a atenção do Planalto à demanda.
Na região de Ilhéus vivem cerca de 8.000 tupinambás.
"Ainda estamos contabilizando os prejuízos. Houve saques de bebidas alcoólicas, roupas, duas pranchas de surfe e oito TVs, além de danos a estruturas físicas do empreendimento", diz Arthur Bahia, sócio do hotel.
HOTEL SEM LICENÇA
Desocupado na última quarta-feira, o hotel está fechado desde meados do ano passado. Ele fica dentro de uma unidade de conservação e ainda não tem licença ambiental, segundo o governo federal.
A empresa que administra o hotel diz que não há passivo ambiental e que só aguarda a liberação da licença.
Sem passagem aérea, Val seguirá de ônibus para a capital federal, numa viagem de um dia e meio de estrada.
Na próxima sexta, Dia do Índio, ele acredita que o Ministério da Justiça concederá a demarcação das terras.
"Seremos donos de direito, e os fazendeiros serão indenizados", afirma o cacique.
Antes da viagem, na tribo, um ritual com danças e cantos para a reportagem: "Quem fala mal da gente, a gente corta a língua e arranca os dentes". Em seguida: "É Deus no céu e os índios na terra".

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